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Sangue

  • Frank Abreu
  • 8 de set. de 2024
  • 2 min de leitura



Como é bom ver dramaturgia brasileira contemporânea de qualidade! Sangue, peça em cartaz no CCBB, nos conta a história de Carin (Carol Gonzalez), uma atriz que mesmo passando por perrengues (volta e meia trabalha de garçonete para honrar os boletos) consegue produzir sozinha uma obra chamada Sangue, escrita por Aponti, um (fictício) dramaturgo francês já falecido. Acontece que, a poucas semanas da estreia e com 80% do dinheiro levantado já investido na produção, Carin recebe a notícia de que o irmão do falecido autor, agora detentor dos direitos autorais, retirou sua autorização para a montagem.


Como a sinopse deixa claro, Sangue é uma obra metalinguística. Carol Gonzalez escreve no programa: "Há um tempo, essa mesma equipe foi impedida de realizar uma peça. Kiko Marques pensou em escrever sobre o acontecimento, transformar em teatro."  Adiante, Kiko Rieser, um dos idealizadores do espetáculo, completa: "cuidado, ao tentar impedir uma peça, você pode acabar precipitando a criação de outra, ainda mais forte, ainda mais significativa, brasileira, contemporânea, nosso patrimônio!"


E a ênfase nessa brasilidade, longe do patriotismo tosco, se refere à maneira como Sangue aborda, profunda e corajosamente, as feridas da nossa sociedade: ao examinarmos o pequeno universo de uma montagem teatral, nos deparamos com o racismo, a misoginia e as marcas do colonialismo cultural.


A apresentação que assisti foi seguida por um bate-papo descontraído entre elenco e plateia. Os atores (a já citada Carol, Leopoldo Pacheco, Marat Descartes e Rogério Brito) deram exemplos de como o texto criado por Kiko Marques (também diretor da montagem) foi sendo lapidado ao longo dos ensaios e modificado até mesmo depois da estreia. Também contaram histórias como esta: a certa altura do espetáculo as cortinas se fecham por alguns segundos, Marat Descartes faz uma alteração em sua maquiagem e quando o pano se abre ele já está com a nova caracterização. Acontece que um belo dia o fechamento das cortinas emperrou e o ator precisou se virar nos trinta: aproveitou um momento em que a iluminação principal não estava nele e fez a maquiagem em cena aberta. Ninguém percebeu nada.

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