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Pawana

  • Frank Abreu
  • 4 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de jan. de 2024


Em meados do século XIX, o capitão de um navio baleeiro descobre um local na costa da Califórnia onde baleias-cinzentas se refugiam para ter os seus filhotes. Era uma mina de ouro para os caçadores, pois a extração e o comércio de óleo de baleia foi uma atividade altamente lucrativa naquele período.


Numa época anterior à exploração do petróleo em larga escala, o óleo de baleia era o combustível usado na iluminação das cidades e faróis marítimos, além de servir como lubrificante para as engrenagens de máquinas em sociedades que se industrializavam.


O autor de Pawana, J.M.G. Le Clézio, vencedor do Nobel de Literatura em 2008, inspirou-se na figura real do capitão Charles Melville Scammon que, em 1856, esteve à frente de uma matança indiscriminada de baleias-cinzentas na costa californiana.


Na peça, Celso Frateschi encarna o capitão Melville Scammon que, já no fim da vida, recorda os acontecimentos deflagrados por sua descoberta do refúgio onde os animais pariam: navios de várias partes do mundo chegaram para se juntar à caça e o extermínio dos seres que ali viviam.


Rodolfo Valente interpreta John, um jovem marinheiro recém-chegado da costa leste. (Leitores de Moby Dick vão sorrir toda vez que ele citar as cidades de Nantucket e New Bedford.) John narra sua experiência como tripulante do navio de Scammon ao mesmo tempo que nos conta de sua paixão por Araceli, índia forçada a se prostituir para os marinheiros.


Scammon e John se revezam em monólogos que se complementam, dando conta da história. Eles atuam sobre uma plataforma redonda cheia de pedras brancas (sal marinho). O formato circular desse minúsculo palco faz pensar numa bússola, ainda mais porque quatro véus brancos descem do teto e pousam nos lugares correspondentes aos pontos cardeais.


No centro do drama está o conflito entre a beleza e a barbárie. O relato de Scammon entrelaça belas descrições das baleias se movimentando com seus filhotes e o horror do sangue tingindo as águas de vermelho. Então o conflito interno do velho capitão explode num grito:


“Como alguém ousa amar o que matou?”


Pawana nos faz pensar nessa imensa baleia chamada Terra, cuja beleza amamos e matamos diariamente.

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Pawana foi assistida em 10 de dezembro de 2023 no Ágora Teatro.

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